Sesto (Trácia)
Coordenadas: 40° 13' N 26° 23' E
Sesto Sestus Σηστός | |
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Mapa do Quersoneso da Trácia (designação antiga da atual península turca de Galípoli) | |
Localização atual | |
Sesto | |
Coordenadas | 40° 13' N 26° 23' E |
País | Turquia |
Província | Çanakkale |
Dados históricos | |
Região histórica | Quersoneso da Trácia |
Abandono | época romana |
Civilização | grega |
Sesto (em grego: Σηστός; romaniz.: Sestós; em latim: Sestus) foi uma antiga cidade grega situada na margem ocidental do trecho mais estreito do Helesponto (o atual estreito de Dardanelos, que liga o mar Egeu ao mar de Mármara).[1][2][3][4][5][6] Foi a principal cidade do Quersoneso da Trácia[7] (designação antiga da atual península turca de Galípoli) e situava-se em frente à cidade de Abidos,[1][2][3][4][5][6] a nordeste de Mádito e a leste do cabo Sestias.[8][nt 1]
Segundo a tradição, foi uma colónia eólia, fundada por naturais de Lesbos,[9] provavelmente no século VII a.C.[10] Durante vários séculos foi o local mais usado para ir da Europa para a Ásia Menor, até que os romanos mudaram as travessias para Galípoli (atual Gelibolu). O geógrafo grego Estrabão, citando a Ilíada,[11], escreveu que a região fazia parte do sétimo distrito dinástico de Troia, que abarcava a área entre o rio Esepo e a cidade de Abidos, e chamou troianos aos habitantes da região, porque todos os territórios em redor de Abidos estavam sob o domínio de Asio, descendente de Hirtaco, que além desta cidade e de Sesto, dominava Arisba, Percote e Practio.[12]
Sesto é famosa sobretudo pela lenda de Hero e Leandro, cuja protagonista morava na cidade, numa torre sobre o mar. Os poucos vestígios físicos da antiga cidade encontram-se a nordeste de Eceabat e a sudeste de Bigalı.
História
Heródoto descreveu Sesto como a praça-forte mais segura da região.[13] Segundo Teopompo, era pequena mas muito fortificada e estava ligada ao porto por muralhas com dois plethros (61 metros [de altura?])[14] O orador Pitolau chamou a Sesto o celeiro do Pireu, referindo-se à importância para Atenas da importação de cereais da região do Ponto.[15]
Sesto só começou a cunhar moeda aproximadamente em 300 a.C.[carece de fontes?]
Em 480 a.C., o exército do xá aquemênida Xerxes I atravessou o estreito usando duas pontes de barcas, que depois ficaram conhecidos como "pontes de barcas de Xerxes".[16] Depois da Batalha de Mícale (479 a.C.), os atenienses quiseram recuperar o Quersoneso da Trácia e cercaram Sesto, onde o exército persa se tinha fortificado, mas não estava bem preparado para se defender. A importância de Sesto para os atenienses devia-se à sua situação estratégica, que permitia controlar a rota comercial do trigo proveniente das planícies cerealíferas da Ucrânia. A guarnição persa resistiu durante meses ao assédio, até que o exército ateniense comandado por Xantipo[16] logrou entrar na cidade na primavera de 478 a.C., quando a fome provocou a revolta dos habitantes. O governador persa Artaíctes e a maior parte dos persas fugiram de noite e os habitantes abriram as portas da cidade.[17] Essa derrota levou a que a guarnição persa de Sesto se rendesse e que a influência persa no Helesponto fosse significativamente reduzida. O controlo do Helesponto permitiu que o acesso do exército persa ao continente grego fosse impedido ao mesmo tempo que era restabelecido o comércio ateniense com o mar Negro com portos como Bizâncio.[carece de fontes?]
Sesto figura nos registos da Liga de Delos como pólis tributária desde 446/445 a.C.[nt 2] e é mencionada em inscrições, juntamente com Alopeconeso, como tendo sido uma base da frota confederada que patrulhava as águas do Helesponto.[18] Permaneceu nessa liga, liderada por Atenas, até à Batalha de Egospótamos (405 a.C.). Lisandro, o general espartano que derrotou os atenienses nessa batalha, marchou contra os sobreviventes que conseguiram refugiar-se em Sesto, tomou a cidade e deixou partir os refugiados devido a um acordo,[19] Em consequência da derrota de Atenas na Guerra do Peloponeso, Sesto e outras cidades do Quersoneso passaram a ser aliadas de Esparta, que por sua vez era aliada dos persas.[carece de fontes?]
8Quando rebentou a guerra entre Esparta e o Império Aqueménida, Sesto tomou o partido dos espartanos e recusou-se a obedecer à ordem de Farnabazo II (sátrapa persa da Frígia helespôntica) de expulsar a guarnição lacedemónia. Isso foi aproveitado em 393 a.C., durante a Guerra de Corinto, pelo estratego ateniense Conão para levantar um cerco à cidade, que não foi bem sucedido.[20]
Em 387 a.C., Sesto recuperou a independência nos termos do acordo de Paz de Antálcidas, que pôs termo à Guerra de Corinto, mas pouco tempo depois os persas voltaram a impor o seu domínio. Quando a cidade volta a ser mencionada nas fontes históricas, encontrava-se sob a alçada do sátrapa Ariobarzanes (368–330 a.C), que estava em guerra com Cotis, rei dos trácios odrísios. Este cercou Sesto em 365 a.C., mas teve que levantar o cerco quando chegaram as forças unidas do estratego anteniense Timóteo e do rei espartano Agesilau II.[21]
É possível que devido a esse apoio Ariobarzanes tenha dado Sesto a Atenas, talvez juntamente com mais alguma cidade, mas foi o sucessor de Cotis, Cersobleptes, que entregou todo o Quersoneso Trácio, incluindo Sesto, a Atenas, no ano 357 a.C.[carece de fontes?] No entanto, a cidade recusava a submeter-se a Atenas, pelo que em 353 a.C. os atenienses enviaram Carés para conquistarem a cidade, que foi tomada de assalto e todos os habitantes masculinos foram executados.[22]
Embora não haja menções históricas para o período seguinte, a cidade não deve ter tardado a cair nas mãos dos macedónios. Foi em Sesto que Alexandre, o Grande reuniu as suas tropas para cruzar o Helesponto em direção à Ásia Menor. O rei Filipe V da Macedónia teve que retirar da cidade quando perdeu a Segunda Guerra Macedónica frente à República Romana. A retirada dos macedónios de Sesto foi um dos pedidos feitos ao romanos pelos ródios, a quem interessava o comércio livre em direção ao mar Negro.[carece de fontes?]
Em 191 a.C., durante a guerra romano-síria, Sesto aliou-se a Antíoco III Magno e foi assediada pelo exército romano no ano seguinte, tendo-se rendido. Passou então a ser uma cidade romana. Deve ter desaparecido no fim do Império Romano, com os ataques dos godos.[carece de fontes?]
Em 1810, Byron nadou desde Sesto até Abidos em quatro horas, recriando o feito de Leandro, e depois escreveu um poema sobre Leandro.[23] Este evento é comemorado todos os anos com um encontro de nadadores que fazem a travessia.[24]
Sítio arqueológico e localização
As ruínas da antiga Sesto localizam-se em Zemenic, perto da localidade de Jalowa e da baía de Ak Bachi Liman.[25] No cimo da colina que dominava o porto de Sesto encontram-se as ruínas da fortaleza bizantina de Zeménia, tomada por tropas otomanas às ordens do bei Orcano I (r. 1281–1359), que, vindas do lado anatólio dos Dardanelos, conseguiram penetrar na parte europeia.[26]
Notas
- Texto inicialmente baseado na tradução dos artigos «Sestos» na Wikipédia em castelhano (acessado nesta versão) e «Sestos» na Wikipédia em inglês (acessado nesta versão).
- ↑ Sesto, Mádito e o cabo Sestias situavam-se na península, no lado ocidental (europeu) do estreito do Helesponto, enquanto que Abidos se situava na margem oposta, na Ásia Menor.
- ↑ Inscriptiones Graecae I3 226.V.24 menciona a cidade como tributária mas não especifica qual era o phoros (tributo) que era pago.
Referências
- ↑ a b Heródoto, Histórias, Livro VII, Polímnia, 78 [pt] [el] [el/en] [ael/fr] [en] [en] [en] [es]
- ↑ a b Tucídides, I.89.2
- ↑ a b Inscriptiones Graecae, II2 274.3; inscrição de meados do século IV a.C.
- ↑ a b Xenofonte, Helénicas, IV.8.5
- ↑ a b Éforo de Cime, fr. 155
- ↑ a b Ilíada, II.836
- ↑ Périplo de Pseudo-Cílax, 67
- ↑ Isaac 1986, p. 195.
- ↑ Pseudo-Escimno, 709–710
- ↑ Isaac 1986, p. 161.
- ↑ Ilíada, II.835–837
- ↑ Estrabão, XIII.1.7
- ↑ Heródoto, Histórias, Livro IX, Calíope, 115 [pt] [el] [el/en] [ael/fr] [en] [en] [en] [es]
- ↑ Teopompo, fr.390
- ↑ Hansen & Nielsen 2004, p. 910.
- ↑ a b Heródoto, Histórias, Livro VII, Polímnia, 33 [pt] [el] [el/en] [ael/fr] [en] [en] [en] [es]
- ↑ Heródoto, Histórias, Livro IX, Calíope, 118 [pt] [el] [el/en] [ael/fr] [en] [en] [en] [es]
- ↑ Braaden & McGregor, pp. 3-23.
- ↑ Diodoro Sículo, XIII.106.8
- ↑ Xenofonte, Helénicas, IV.8.6
- ↑ Xenofonte, Agesilau 2.26; Discurso XV 108, 112
- ↑ Diodoro Sículo, XVI.34.4
- ↑ The Works of Lord Byron
- ↑ Barr, Matt (30 de setembro de 2007). «The day I swam all the way to Asia» (em inglês). The Guardian www.theguardian.com. Consultado em 11 de julho de 2016 A referência emprega parâmetros obsoletos
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(ajuda) - ↑ Dearborn 1819, p. 42.
- ↑ Diccionario geográfico universal, p. 114
Bibliografia
Fontes antigas
- Diodoro Sículo, Biblioteca histórica
- Éforo de Cime
- Estrabão, Geografia, Livro XIII, Capítulo 1, 7 [fr] [en] [en] [en]
- Homero, Ilíada
- Tucídides, História da Guerra do Peloponeso
- Xenofonte, Helénicas
- Xenofonte, Agesilau
- Périplo de Pseudo-Cílax
- Pseudo-Escimno
Fontes modernas
- Braaden, Donald William; McGregor, Malcolm Francis (1973), Studies in Fifth-Century Attic Epigraphy (em inglês) A referência emprega parâmetros obsoletos
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(ajuda) - Dearborn, Henry Alexander Scammell (1819), A Memoir on the Commerce and Navigation of the Black Sea: And the Trade and Maritime Geography of Turkey and Egypt (em inglês), 2, Boston: Wells & Lilly, consultado em 21 de julho de 2016 A referência emprega parâmetros obsoletos
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(ajuda) - Hansen, Mogens Herman; Nielsen, Thomas Heine (2004), «Thracian Chersonesos», An Inventory of Archaic and Classical Poleis, ISBN 9780198140993 (em inglês), Oxford University Press A referência emprega parâmetros obsoletos
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(ajuda) - Isaac, Benjamin H. (1986), The Greek Settlements in Thrace Until the Macedonian Conquest (em inglês), Brill, consultado em 21 de julho de 2016 A referência emprega parâmetros obsoletos
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(ajuda) - «Ak-Bachi-Liman», Diccionario geográfico universal, por una sociedad de literatos, S.B.M.F.C.L.D. (em espanhol), Barcelona: José Torner, 1834, consultado em 21 de julho de 2016 A referência emprega parâmetros obsoletos
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(ajuda)
Written after swimming from Sestos to Abydos em The Works of Lord Byron (ed. Coleridge, Prothero). Poetry. Volume 3. no Wikisource em inglês.
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